Neste ano, comunidade, movimentos sociais e estudantil, organizações
independentes e desempregados organizaram a manifestação do
primeiro de maio na vila Jardim Itaqui. Em pauta os temas que vão da
moradia digna, como precariedade no atendimento do posto de saúde e
do CRASS, a crescente violência policial contra moradores e a luta
pela tarifa zero no transporte coletivo.
Com histórico de brava luta pela permanência das famílias na vila
e contra os despejos forçados executados pelos governos via empresas
extratora de areia até milícias armadas, o primeiro de Maio teve
foco no resgate dessas lutas espontâneas. As comunidades Jardim
Alegria, Jardim Ipê, Jardim Cruzeiro do Sul e Jardim Itaqui
reviveram através de suas falas, durante a caminhada, todo passado
da organização popular que venceu interesses especulativos.
"Queremos voltar a organização popular que venceu grandes
interesses privados e exigir nossos direitos ainda negligenciados
pelo Estado", convoca Claudia, coordenadora da Associação de
Bairro do Jd. Itaqui.
A manifestação teve inicio na praça, onde posteriormente existiu a
sede da Associação de Bairro do Jardim Alegria, derrubado com
trator da prefeitura pelo ex-candidato a vereador Adilsson. Um café
da manhã ajudou na integração entre os moradores das várias vilas
que deram inicio as falas da plenária explicativa do ato.
A caminhada teve três paradas em locais emblemáticos da luta.
Primeira parada foi na entrada do Jd. Alegria onde no ano de 2004
houve contenção dos moradores contra tentativa de despejo forçada
pela policia. A fala foi um costura entre as várias lutas com o
mesmo foco: Guerra entre as classes sociais.
Em frente ao comitê do vereador Fenemê, foi feita denúncia de
vários figurões da política de São José dos Pinhais com a
prática de compra de votos e desassistência sistemática das
famílias pobres. É flagrante o favorecimento de políticos locais
aos grandes empresários em detrimento das condições mínimas para
uma vida razoável das comunidades. A frente feminista enfatizou o
papel histórico crucial das mulheres na batalha entre classes,
acusação da violência doméstica, descriminalização do direito
ao aborto e classismo na luta contra o capital como pontos basilares
do feminismo.
"A incapacidade de reação da sociedade perante ao episodio do
namorado policial civil que espancou, algemou e disparou quatro tiros
contra sua namorada de 23 anos, estudante de química da UFPR,
demonstra claramente a necessidade instantânea de sensibilização
da causa feminista classista no Brasil", protestaram Cr., 17
anos, e Walkiria, 43 anos, militantes da Frente de Ação Anarca
Feminista, FAAF.
A manifestação seguiu com gritos de ordem pela criação do poder
popular, pela exigência de aplicação dos recursos públicos nas
vilas atingidas por todo tipo de especulação imobiliária, bem como
por catástrofes ambientais e contra a realização da Copa 2014 no
Brasil. A última parada relembrou a grande greve americana de 1886,
que resultou no assassinato dos mártires de Chicago, também do
primeiro congresso da Confederação Operária Brasileira em 1906 e
das greves do final dos anos 1970, no ABC paulista, que resultaram na
capitulação do sindicalismo brasileiro.
O encerramento da manifestação em frente à Escola Estadual Ipê,
com a ciranda embalada pela música: "Trabalhador é especial, é
socialista e luta contra o capital" teve como auge a mística
proposta pelo núcleo anarquista de Curitiba (NAC), onde vários
retalhos coloridos foram entrelaçados em paralelo com a Whipala,
bandeira repleta de cores da comunidade indígena andina Aymará em
luta. Este desfecho representa o pacto entre as organizações
presentes no primeiro de Maio com as comunidades local, estadual,
nacional e internacional em luta contra o capitalismo.